segunda-feira, 20 de julho de 2009

Um aniversário no inverno...
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Mês passado fiz 27 anos e pensei em escrever algumas linhas sobre essa data. Acabei deixando pra depois por causa do fim do semestre na faculdade e do novo emprego em que entrei. Momento conturbado esse agora, cheio de mudanças que ainda não se encerraram... Todo ano é assim. Junho-julho são os meses em que nós, cancerianos, começamos um novo ciclo. Nosso "Ano Novo" começa em pleno inverno e isso tem relação direta com as mudanças por que passamos. Aqueles que nascem nesta data vêm ao mundo na época mais fria do ano e por isso demonstram, desde muito novos, grande apego ao colo, ao abraço, ao afeto e ao "ninho" de onde saíram. São pessoas sensíveis, protetoras, compreensivas e talvez por isso nosso signo esteja associado ao lar, à família e às amizades. Cada canceriano elege qual será seu círculo mais próximo com o mesmo zelo que os leoninos escolhem seus súditos e os escorpianos suas vítimas rsrs. O meu sempre foi mais amplo que pais e irmãos. Tenho pelos meus amigos um amor fraterno, sincero e sempre procuro manter as minhas amizades ainda que, muitas vezes, acabe deixando de responder um e-mails, um recado ou retornar uma ligação... Até pareço um canceriano relaxado, mas não sou não. Esse mês de julho, de férias, organizei-me para rever pessoas especiais com quem não falo há tempos. Planejei lugares que gostaria de ir, filmes que gostaria de ver, pessoas para visitar... Porém as semanas foram passando e acabei não fazendo nada. Não usei o dia do meu aniversário para reunir as pessoas queridas e não aproveitei o mês seguinte para encontrá-las. Esse inverno de 2009 foi mais vazio do que em outros anos. Teve menos sorrisos, abraços, risadas e carinhos. Foi uma pena... E eu que gosto tanto do inverno, que acho essa a época mais agradável, não terei histórias dela para contar! No inverno é quando a gente anda mais bem arrumado, mais bem vestido para enfrentar o frio. As pessoas não ficam suadas e fedidas como no verão. No inverno os abraços são mais apertados e mais demorados pois todos estão atrás de um pouquinho mais de calor. Eu conheço bem o inverno, nasci nessa época e nela renovo meu ciclo. Nascer no inverno tem essa vantagem. Eu gosto do Inverno.

domingo, 14 de junho de 2009

terça-feira, 9 de junho de 2009

Nota e análise sobre os problemas com o Professor de Teoria da Democracia.

Quero registrar aqui, neste espaço público, minhas impressões sobre o que está acontecendo e que, em respeito ao Vinícius e por discordar de como o professor o tratou, não irei à última aula de TD. Antes disso porém gostaria de dizer que essa atitude tem um alto significado para mim pois perder a aula que tratará de um assunto que a nós, petista, tanto traz orgulho, que são as experiências de OP e outras iniciativas de democracia participativa e deliberativa, é algo com grande peso. Estagiei por três anos no Orçamento Participativo e digo que é realmente apaixonante ver como a participação popular nos processos decisórios gera autonomia e educa politicamente os indivíduos. Para mim essa é, finalmente, a "Boa Democracia" que um GPP deve se orientar em contraposição a "democracia das elites", "das oligarquias", do "voto plural", da "participação irracional", da "tirania da maioria" ou da "tirania do proletariado"! Eu fecho com as teorias de Pateman e Gutmann e acho que os trabalhos do Boaventura, Avritzer, Navarro, que tomei contato em minha época de estágio sobre as experiências no Brasil da aplicação dessas teorias, são excepcionais. Porém, apesar de entender a importância dessa última aula como MARCO da PREPONDERÂNCIA daquilo que chamei de "realismo-esperançoso" (inspirado em Suassuna) sobre as demais "Teorias da Democracia", vejo que existe algo maior que meu interesse imediato que deve ser preservado. No jargão político isso se chama "marcar posição" e significa a tomada de uma decisão levando em consideração o "por vir" em detrimento da análise da correlação de forças do momento. Compreendo a crítica de alguns amigos quando aos desdobramentos dessa história. Minha educação política também me ensinou que nunca é saudável quando um processo se radicaliza. Mas se isso acontecer o melhor a fazer é assumir um lado para (pelo menos) preservar o espirito de grupo e internamente construir a distensão, o relaxamento das tensões.
É por isso que faço parte da tendência "Construindo um Novo Brasil (CNB) do PT e do coletivo estudantil ParaTodos, pois sei que minhas opiniões ecoam melhor quando apresentadas dentro de uma unidade que sabe que pode confiar na postura dos seus membros.
Pertencer a um corpo coletivo dá muita segurança para nossas ações que precisam de respaldo. Da minha parte pode esperar sempre esse compromisso. Sinto que a rede que estamos construindo aqui em GPP se manterá para além dos próximos três anos e será sustentáculo para muitas das iniciativa que, nos diversos espaços de atuação onde estivermos, iremos propor.
Temos que reler o primeiro texto que o Pralon nos passou em IEPP do Zairo Cheibub que fala de como os EGGPPs constróem políticas públicas na esfera federal. Gente, é disso que estou falando!!! Responsabilidade Social... Terceiro Setor... Estado... Partidos Políticos... Academia... Nos espalharemos por diversos espaços e se tivermos sólida nossa rede, serão muito mais produtivas nossas práticas.
Por isso vejo nossa unidade como algo que se deva investir tanto quanto o conteúdo de sala. Não estou dizendo que chegaremos a criar uma "Casa das Garças", mas há um elemento que nos dá unidade que é a compreensão de que isolados aprendemos menos, influenciamos menos, somos mais frágeis e a única forma de evitar isso é fortalecer uma unidade comum sem comprometer nossas identidades. É esse elemento que uso para pautar minhas decisões e convido os demais colegas a essa reflexão. Isso, claro, quem chegou a ler até aqui rss.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Uma análise sobre a crise econômica a partir da leitura de textos de Castells e Gramsci.

A crise econômica que o mundo enfrenta hoje é fruto de um processo histórico de conflito entre dois modelos de Estados que se alternaram nos mais diversos países do globo durante o século XX e início do século XXI. Estamos falando do modelo Intervencionista e do modelo Liberal.
Depois da crise de 1929, o consenso de que o Liberalismo corrigia sozinho os erros dos agentes econômicos e que por isso o Estado deveria ter reduzida sua capacidade de intervenção, foi contraposto ao modelo de economia planificada dos países socialistas e do estado de bem estar social dos países capitalistas mais desenvolvidos. Imperou por um certo tempo a defesa de valores baseados mais na igualdade de acesso do que na liberdade de escolha e isso se deu não só na economia mas também no campo da política e na vida social.
A partir dos anos 70 o pensamento Liberal retorna com o resgate da tese da “Sociedade de Mont Pèlerin” (composta, entre outros, por Hayek, Fridman e Popper) e é aplicado no campo econômico pelos governos de Thatcher e Regan na década seguinte, tornando hegemônica a idéia defendida pelos Neoliberais de que a desigualdade é um valor positivo pois gera dinamismo econômico ao capitalismo. O século XX termina com a queda da alternativa socialista no início dos anos 90 e a adoção do discurso neoliberal por esses países.
Esse modelo conquista uma inegável hegemonia entre as nações do globo, porém possui limitações que o levou à atual crise econômica mundial. Essas limitações estão fundadas na idéia de que a economia americana é o sustentáculo do desenvolvimento econômico dos outros países e que o dólar é a moeda que representa a riqueza mundial, sem se ater ao fato de que seu valor não está prezo a um lastro real que e sua emissão é feita por uma única nação. Assim a crise que se inicia nos EUA como uma crise do setor imobiliário se torna rapidamente uma crise mundial pois todas as nações estão extremamente ligadas a economia daqueles país.
Mas e a sociedade nessa história toda? E as pessoas?
É muito comum nesse tipo de análise sobre a crise econômica mundial que a gente desconsidere o papel do indivíduo no processo e minimize sua participação frente aos “grandes atores” (estados, instituições, nações, etc). No entanto toda instituição é composta por indivíduos e são indivíduos os primeiros a serem afetados pelas definições políticas e econômicas desses grandes agentes.
Muitos intelectuais se propuseram a olhar as dinâmicas da contemporaneidade a partir do impacto da ação do homem no seu meio e do seu meio sobre o homem. Manuel Castells é um dos mais conhecidos autores que fala do momento atual a partir da relação que o indivíduo estabelece com a rede. No prólogo “a Rede e o Ser” escrito no livro “A sociedade em rede” ele argumenta que por mais que o mundo se torne uma grande rede (ele estabelece uma linha evolutiva da sociedade Industrial para a Sociedade Informacional), onde o capitalismo conquistou finalmente sua hegemonia, a tecnologia da comunicação rompeu barreiras físicas e a sociedade mundial tem a chance de se unir em uma grande rede, o que mais se observa são os indivíduos se voltando para aquilo que ele chama de “identidades primárias” (familiares, culturais, religiosas, etc) do que suas “identidades secundárias” (papel econômico, profissional, político, acadêmico, etc)
Castells estabelece essa distinção entre os dois conceitos a partir da carga de integração com a realidade global que eles possuem. As identidades primárias são aquelas formadas a partir da história de vida do indivíduo com seu meio mais próximo, já as identidades secundárias são resultado da compreensão racional da relação que o indivíduo estabelece com o global. Ele vê que muitas patologias sociais da atualidade são fruto da crise de identidade que os grupos sociais passam ao se deparam com o conflito entre o fenômeno da mundialização e a preservação das identidades locais. Essas patologias são maiores ainda quando o próprio sistema global entra em crise (como essa que vivemos hoje) e as identidades primárias afloram através de racismo, xenofobia, perseguição a minorias étnicas entre outros.
A recusa do global por ver nele uma ameaça é um fenômeno contemporâneo que Castells observa e, seguindo a sua leitura, a atual crise financeira mundial pode ser um catalisador desses descontentamentos e resultar em um acirramento dos conflitos entre povos.
Um outro autor importante que viveu parte do século XX e identificou que a sociedade civil exerce um papel importante na ação do Estado foi Gramsci. Herdeiro de uma tradição marxista, Gramsci vê sim um protagonismo do Estado nas ações, no entanto seu olhar se volta à sociedade de massas que emerge e que entra em choque com o estado quando este não consegue estabelecer hegemonia (a construção da contra hegemonia). Para ele essa hegemonia só pode ser conquistada através da superestrutura* conforme ocorreu nos EUA onde a sociedade foi convencida de que é, primeiramente consumidora e só depois cidadã; na Europa onde os regimes autoritários convenceram a sociedade a se ver como massa e na URSS onde o Estado retirou da sociedade a capacidade criativa de se auto organizar.
Segundo Gramsci a classe dominante sempre faz algumas poucas concessões à grupos divergentes para estabelecer com eles um “Bloco Histórico” de dominação. Esse fenômeno é parte da construção da hegemonia e quando é apenas para evitar que a hegemonia já estabelecida sofra ranhuras na sua estrutura, Gramsci a caracteriza como “Revolução Pacífica”.
É possível observar na crise atual uma revolução pacifica nas regras do jogo econômico. Quando economistas conservadores se dispõe a buscar nas leituras mais progressistas alternativas para corrigir a rota do modelo neoliberal, seguramente não é uma contra hegemonia que eles estão construindo mas sim um outro processo, possivelmente uma “Revolução Pacífica”. Cabe saber agora que sociedade vai emergir desse novo momento histórico e se ela vai aceitar pacificamente a reforma do sistema ou se dará vazão a arranjos institucionais mais criativos. As diversas edições do Fórum Social Mundial ensaiou a elaboração de um novo projeto para o mundo, as experiências plebiscitarias de muitos governos latino americanos também apontam em uma nova direção. Pela análise Gramsciana não podemos prever o que virá, mas podemos afirmar pelo menos que essa crise resultará em uma nova hegemonia social.
*conceito marxista que reúne tudo aquilo que pertence a sociedade as que não é material (Arena Política, Econômica, Ideologia, Instituições tradicionais, etc)

Escrito por Ricardo Tadeu Sá Teles em 18 de maio de 2009 para a prova de "Sociedade e Políticas Públicas" do curso de Curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo.